sábado, 29 de junho de 2013

Unspoken


I wished to say, "don’t you run away from me this time", 
but it’s always too late. 
I wished to say, "don’t you ever forget about me", 
but somehow I think you already did.
I wished to say, "stay the night", 
but you were already gone by then.
I wished to say, "I’m sorry",
but you weren’t there to listen anymore.
I wished to say, "come back to me",
but you were already loving somebody else.
I wished to say, "go fuck yourself",
but all I did was remain silent.
I wished to say, "I want you dead",
but I could never wish you any harm.
I wished to say, "I wanted to erase you from my mind",
but somehow I’d be losing a part of me with it.
I do wish to say now, "what the hell do I do without you?"
But I know I’ll hear only an endless silence. 

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Cigarro é poesia


"As razões para o poder do cigarro não são só bioquímicas; são literárias e poéticas. O cigarro é um sacramento: é um objeto material que se transforma num objeto espiritual quando o fumante o liga a uma imagem poética. Descoberta essa palavra poética o seu poder desaparece. Um cigarro é um portador de fantasias que se transformam em realidade."  

Lapsos de inspiração e frustrações cotidianas


Inspiração. De quando em quando eu tenho bons insights, eles acontecem todos ao mesmo tempo e parecem um bombardeio de boas ideias. Mas de repente o bombardeio cessa e toda essa inspiração recua e parece difícil demais até mesmo responder perguntas simples em redes sociais de perguntas e respostas. E aí parece mais difícil ainda pensar em boas coisas para escrever em um blog.
Eu fico pensando de onde surgem as inspirações dos artistas, principalmente os escritores de sagas. J.K. Rowling, por exemplo, de onde ela tirou tanta inspiração para escrever sete livros? Escrever é difícil, é muito, muito difícil. Não é apenas juntar um monte de palavras e querer exigir que elas façam sentido a todos que leem. Escrever uma merda atrás da outra é bem simples.
Essa postagem mesmo, para mim, soa como aqueles episódios que só servem para encher linguiça, não causam impacto algum na série, nem na história da temporada e muito menos nas nossas vidas. São 40 minutos que a gente assiste por assistir, por amor à série, por amor aos personagens, mas nunca acrescentam em nada. Aí a gente esquece deles.
Eu sou muito boa em tagarelar incessantemente para preencher espaços e também preencher o tempo, posso divagar sobre uma lâmpada queimada ou sobre o gato que está miando lá fora há três dias e tornar essa divagação a maior reflexão filosófica que já foi vista. Mas é só um monte de besteira.

Divagações a parte ou talvez mais divagações sem sentido, eu queria apenas fazer uma reclamação amistosa: como eu supostamente deveria ter experiência em uma função quando sem essa experiência eu não posso trabalhar em tal função? E se eu não trabalhar nessa determinada função, não irei adquirir a tal experiência na dita cuja função, logo, não poderei assumir a vaga que exija tal experiência, pois não possuo tal experiência na função. Confuso? Nah. Ao que parece, é a lógica de qualquer empresa.
Esse ciclo vicioso, esse inferno que é a transição entre largar a (não tão) boa vida e se tornar alguém (não tão) notável.
A acidez com a qual estou falando hoje não é tão grande quando a minha frustração em relação ao mundo.
Às vezes parece que eu estou afundando novamente.

Eu só quero que a minha criatividade volte rápido e que eu possa falar sobre as coisas que interessam e não sobre toda essa besteirada de sentimentos presos, coisas que não interessam a ninguém, coisas tediosas. Eu estou com uma ideia há umas duas semanas e a não consigo colocar em palavras o que quero dizer. Talvez eu aproveite o final de semana fora para colocar um pouco as ideias no lugar, talvez eu precise apenas sair daqui um pouco.
É como se eu estivesse trancada aqui por anos.

Mas tá tudo bem. Tá tudo sempre bem.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

O Poder da Arte

A arte no filme Le fabuleux destin d'Amélie Poulain

Não é lá uma novidade muito grande o fato de que eu sou extremamente controversa diante de uma infinidade de coisas. Por exemplo, eu tenho muito medo de filmes de terror e não os assisto nem sob tortura, protesto, se for preciso, mas não os vejo sob circunstância alguma. Porém a maioria das minhas séries favoritas possuem contextos perturbadores e estão classificadas no gênero terror/horror/suspense. E parece que sempre sou atraída por esse tipo de assunto, tenho curiosidades e adoro falar sobre assuntos como espiritismo em conversas, gosto de contar e ouvir casos e essas tais lendas urbanas. Mas ao mesmo tempo eu odeio tudo isso, tenho pavor e não gosto de pensar nas hipóteses dessas coisas todas se provarem reais.

E outro dia eu acabei encontrando ao acaso uma artista ilustradora que possui esse estilo perturbador em todas suas obras e eu fiquei absolutamente fascinada. Fiquei fascinada pelo puro simbolismo de suas obras, fiquei fascinada pela forma simples e ao mesmo tempo complexa do seu trabalho. Não me aprofundei em pesquisas sobre ela, não até esse momento em que resolvi fazer essa postagem. Mas a coisa toda agrava a minha personalidade contraditória, pois os temas das obras dessa artista são realmente fortes, alguns até um pouco repulsivos, daqueles que nos causam as mais variadas sensações, as mais desconhecidas, as que dão medo, mas ao mesmo tempo fascinam. Eu sou apaixonada por qualquer coisa que brinque com o psicológico, então para mim, arte - nesse ponto, abstendo-se apenas na arte visual, tais como pinturas ou esculturas - é a forma mais metafórica de todas, é onde se pode examinar a maior parte de uma personalidade e todas as suas controvérsias, os seus medos, os seus desejos íntimos. Talvez seja por esse motivo, mais do que qualquer outro, que as mesmas coisas que me aterrorizam sejam, de certa forma, também as que mais chamam a minha atenção, pois gosto muito de desafiar a minha mente e seus limites.

Já não é de hoje que esse tipo de obra me atrai, porém até hoje nunca tinha visto nada que se comparasse ao trabalho dessa artista de que tanto falo. Meu pai há vários anos chegou em casa com um livro sobre o pintor Hieronymus Bosch e pra muita gente suas obras não são belas, mas eu tenho uma tendência a ver beleza no que chega a beirar o bizarro. Bosch é mais conhecido por destacar em suas obras atos de pecado e até mesmo representações do próprio inferno como pura carnificina, cenas tortuosas e muito sadismo. E essas imagens realmente chegam a perturbar a mente, utilizando o estilo fantástico e também o sombrio, ao mesmo tempo. Há abuso de cores concentrador apenas em certos pontos das obras, o que se torna deveras cansativo para os olhos e para o cérebro. Eu, particularmente, vejo estas obras com infinita admiração, por repassar um sentimento tão forte - ou vários deles. E arte para mim é isso, é repassar sentimentos. É bem mais fácil através da escrita, mas através da pintura, do desenho, das cores fortes e mesmo da ausência delas, isso não é nem perto do que é simples. Tocar a alma de uma pessoa no silêncio e brincar com seus sentidos, seus medos mais íntimos e causar esse desconforto prazeroso é muito mais difícil. Livros podem causar isso, mas o impacto é gradativo, como doses homeopáticas de uma tortura necessária, ao observar um desenho, uma pintura ou até mesmo uma escultura, o choque é quase fatal, a energia que é descarregada através do cérebro e que vai percorrendo todo o seu corpo é muito intensa, todos os níveis são elevados e não estão mais sob o seu controle, seus sentidos passam a pertencer ao autor da obra, estando ele morto ou vivo, pelo menos naquele um instante, e enquanto dura o efeito do choque é ele quem possui o controle total sobre a sua mente e sua alma. E é isso que me fascina sobre a arte, que me coloca em êxtase.

Detalhe central da tela O Jardim das Delícias de Bosch em 1504
 
Peço que reserve um pequeno tempo para clicar na imagem e apenas observar a obra detalhe por detalhe da obra. Tome isso como um desafio, permita-se entrar na obra e experienciar um pouco do sentimento de transe que tanto falo.
Bosch foi uma obsessão que eu criei quando mais nova, mas nunca tinha procurado nada semelhante. Devo confessar que nos meus anos de adolescência, a vontade era sempre maior do que o incentivo de fazer as coisas e a preguiça sempre me vencia, então eu acabava me acomodando à limitação de informações que recebia ao acaso, mas não procurava me aprofundar. Eu acho que não adianta mais lamentar sobre estes fatos, porque ninguém nunca quer saber sobre algo quando está fadado a estudar e ler sobre aquilo, mas de uma hora para outra o assunto se torna realmente interessante quando não é mais uma obrigação e sim por puro prazer de saber mais sobre determinada coisa. Eu costumava pensar que tinha perdido muito tempo, tempo esse que eu jamais iria conseguir recuperar, de fato, a gente não recupera o tempo, mas atualmente eu venho percebendo que mesmo com o tempo que perdemos, ainda assim sempre estamos em tempo de recuperar velhos hábitos que nos beneficiavam, de recuperar velhas dúvidas e ir atrás de suas respostas e sempre, sempre é o momento certo para adquirir mais conhecimento sobre o que for.

Aleksandra Waliszewska
E foi ao acaso mesmo que me deparei com essa artista que venho querendo falar sobre, que é a polonesa Aleksandra Waliszewska. Eu usei aqui algumas de suas obras para ilustrar alguns dos meus textos. O seu trabalho me remete à pesadelos e memórias ruins, mas também me remete à estados de espírito variados e nem sempre ruins, lugares imaginários e fora do alcance da realidade, lugares secretos da mente, esconderijos pessoais. É como se pudéssemos entrar em contato com nossos próprios medos, mas ao mesmo tempo enfrentá-los, como nos pesadelos, onde temos que lutar para viver. A minha contraditória pessoal faz com que eu me sinta hipnotizada por esse tipo de arte, é complexo, é pra ser visto com os olhos, porém sentido com a alma. É arte pra se perder dentro dela.

A artista em si, ao que me parece, não é uma pessoa muito pública, o que chega a ser irônico, pois ela revela a sua alma em seu íntimo mais obscuro, mas são pouquíssimas as informações encontradas sobre a moça, ela também não fala muito sobre suas obras, recusa-se a defini-las e esse é um dos pontos mais incríveis sobre ela, pois assim, ela nos permite expandir ainda mais a mente diante de suas criações. Eu quando observo uma obra, tenho lembranças de coisas que talvez não vivi, mas sei que são lembranças, tenho vários flashes, tenho também memórias que vivi e há muito já havia esquecido, sinto coisas que já senti antes e coisas que nem sabia que poderia sentir. Me sinto parte da obra, me coloco dentro dela. Quando você vê uma pintura e sabe o que ela significa, a sua viagem pela mesma se torna limitada, você sabe que aquilo que interpreta é pessoal, mas também sabe que não compartilha dos mesmos sentimentos que o autor da obra, você não se sente íntimo e a obra passa a ser apenas um agrado de leve aos olhos. Mas as obras cobertas de mistério agradam e também agridem, sentimos como se estivéssemos sendo despidos pelo artista e caminhamos nus dentro da sua criação, não temos certeza de que o que sentimentos talvez não tenha sua parcela de realidade. Nesse caso, tudo é possibilidade. Tudo é sim e não ao mesmo tempo.

Aleksandra Waliszewska é uma incógnita, mas ao mesmo tempo, é um livro aberto. Eu sempre pensei sobre artistas - nesse caso, agora, envolvendo a arte como um todo, pintores, escritores, escultores, atores, músicos - e por qual motivo eles são considerados ídolos. Quando eu era mais nova, via inspirações de vida em todos os meus artistas favoritos, porque gostava de suas músicas ou porque gostava de algum filme que faziam, mas essa é a parte superficial e sem valor, não é o que os define como pessoa, não é o individual de cada um deles. Não durou muito tempo para que eu começasse a me interessar pela história dos artistas e, logo, filtrar meus ídolos como indivíduos avulsos, pessoas como eu e não pessoas acima de mim. Um ídolo ou uma inspiração, da forma que eu vejo hoje, é aquela pessoa que você gostaria de passar um tempo conversando ou que gostaria de seguir os mesmos passos, são pessoas que conquistaram o seu lugar no mundo e oferecem algo que, ultimamente para mim, tem sido essencial buscar em qualquer fonte que me garanta isso: esperança de alcançar algo melhor. Ídolos são pessoas que você desejava ter o coração tão grande quanto, são pessoas que aprimoram a sua capacidade de sentir alguma coisa. Hoje tento focar as minhas frustrações no fato de que, com um pouco de esforço, posso sair de onde estou, posso mudar a minha história. E meus ídolos tem parte nisso, me mostrando que isso é possível. Mas mais do que isso, vejo eles pelo trabalho que fazem, o legado ao qual eles dedicam suas vidas, hoje prefiro dizer que sou muito mais inspirada pela arte produzida por alguém do que pela pessoa em si, salvas algumas exceções.

A arte tem um poder infinito sobre a minha persona. Quando estou a olhar para uma ilustração confusa, estou na verdade tentando me colocar ali dentro e fazer parte daquilo que vejo. Quando estou escrevendo, estou tentando me posicionar no mundo como alguém que compartilha algo que considera útil para si e que pode também ser útil para mais alguém. Hoje vejo que, se pelo menos uma pessoa apreciar o que eu faço e souber me reconhecer, eu já estou fazendo valer à pena os tapas que eu levo da vida. Se eu sou capaz de inspirar algo em alguém, é certo que vou tentar fazer isso. Quando escrevo minhas crônicas abstratas, estou deixando pra trás pedacinhos de mim mesma, derrubando-os pelo meu caminho. A arte está nos pequenos detalhes, é o impacto que ela causa tem proporções gigantes nas vidas de quem recebe a sua arte. É uma pena eu não saber pintar ou desenhar majestosamente, mas acredito que também estou deixando algo importante quando me expresso com as palavras. Toda arte é arte e merece ser apreciada.

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Sugiro que tire um tempo apenas para observar um pouco da obra da Aleksandra Waliszewska. Permita que sua imaginação tome lugar na obra, permita que seus sentimentos se misturem aos sentimentos contidos na imagem:

 
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Aleksandra Waliszewska no Tumblr
Aleksandra Waliszewska no Flickr
  
   
 
THE CAPSULE 
 
Filme que, infelizmente, não tive a oportunidade de ver ainda, 
pois não o encontro em lugar algum.


TRAILER:


IMAGENS:

  
   
   

O Copo de Vidro Azul


Quando eu tinha cinco, quase seis anos de idade alguém me ensinou uma coisa. Eu era apenas uma órfã, nem meus pais quiseram me suportar em casa e me largaram em um orfanato logo que eu nasci. Eu nunca soube o que era carinho de mãe, bronca de pai e jantar em família. Eu nunca conheci nenhum tipo de amor, talvez. E tudo que sei, eu devo à Irmã Pauline. Quando eu tinha lá pelos meus cinco ou seis anos, eu nem entendia muita coisa de nada. Mas eu me lembro perfeitamente bem, como se fosse ontem. Eu tinha um copo de vidro em minhas mãos, ele era de vidro azul, detalhado. Eu bebia suco. Suco de morango, vendo de fora ficava meio marrom, uma cor meio estranha. Eu perguntei para Irmã Pauline o que aconteceria se eu soltasse o copo no chão.
“Vai quebrar.” Ela respondeu. Era um pouco óbvio, mas eu era criança e não entendia muito bem. Perguntei novamente o que aconteceria e com toda a paciência do mundo, ela me respondeu com um sorriso. “Vai quebrar, é de vidro.”
Minha cabeça já perversa desde aqueles tempos matutou. Olhei bem nos olhos da Irmã e soltei o copo no chão sem piedade. Ele caiu e estilhaçou-se no chão, derramando o resto do líquido vermelho dali de dentro. Parecia sangue diluído em água, no meio de milhares de caquinhos azuis. Meus olhos também eram azuis bem fortes, as pessoas costumavam elogiá-los. Porém nunca serviram para que alguém me adotasse.
Irmã Pauline me castigou naquele dia.
“Eu te disse que o copo era de vidro, menina!” Ela disse brava. Nunca tinha visto a Irmã Pauline brava daquele jeito e ainda mais comigo. Ela me fez juntar cada caquinho do copo, eu me cortei, mas ela não ficou com pena de mim, colocou um curativo no meu dedo e me fez juntar todos os pedacinhos do copo. E depois me fez colar.
Ficou péssimo, pra ser sincera. E ela me fez beber água naquele copo. Ele arranhava um pouco os lábios da gente e machucava, mas ela não me deixou jogá-lo fora.
Bem, eu ainda tenho esse copo guardado.
Com 17 anos eu descobri que não era só o copo de vidro azul que não poderia voltar ao normal depois de quebrado. Eu fugi do orfanato, porque eu estava cansada. Ninguém nunca iria me adotar e eu não conseguia mais ficar naquele lugar. Meu problema não foi fugir, mas sim abandonar Marie. Eu não sabia o que nós fazíamos, mas crescemos juntas. Deveríamos nos tratar como irmãs e com todos aqueles ensinamentos religiosos eu tenho certeza que nossas almas iriam direto pro inferno desde o primeiro dia em que eu dei aquele beijo em Marie e a fiz se apaixonar por mim. Nunca vou esquecer a frase que Marie disse para mim uma vez:
“Meu coração está em suas mãos, Jolie.”
Nunca me senti culpada por amar e ser amada de volta por Marie. Pensava na Irmã Pauline e no sermão que eu levaria por amar daquela forma. Por amar uma menina. E no fundo eu sei que Marie se sentia culpada por me amar. Eu nunca tive medo. Talvez porque Marie era tão assustada, assim como uma gatinha, que eu tinha que mostrar pra ela que alguém a protegeria. Mas naquela noite em que eu fugi, eu sei que o coração de Marie era o copo nas mãos da Jolie aos seis anos de idade. E eu joguei no chão.
Não tive notícias de Marie, até hoje não sei se ela se lembra de mim, se arrumou uma família. Não sei de nada. Hoje com 27 anos, ainda consigo me lembrar do bilhete que deixei em cima do meu travesseiro para que Marie encontrasse.
“Me perdoe, Marie, eu deixei o copo azul cair no chão. E ele era de vidro. Quando colei os pedacinhos eu sabia que ia faltar algum, sempre machuca os meus lábios quando bebo alguma coisa naquele copo por conta desse pedacinho que falta. Eu não acho que você vai entender isso. Eu amo você, floco de neve. Sua, eternamente sua, Jolie.”
Irmã Pauline não me procurou, no fundo eu acho que ela já sabia que eu precisava seguir a minha vida sozinha. Eu não derrubei apenas o copo azul de Marie no chão naquela noite, o meu coração era o suco dentro do copo. Sangue diluído em água.
E hoje, todas as noites, quando meu marido se vira para o lado oposto ao meu, dormindo profundamente, eu posso ver perfeitamente o rosto de Marie na minha frente. Seus traços delicados. Imagino como ela estaria hoje. Deve ter ficado uma menina linda. Perfeita. Penso se ela continuou na França ou se foi para Nova York, talvez tenha ido para a Inglaterra, que tinha mais a ver com ela. Penso se ela chegou a realizar seus sonhos…
Nunca permiti que alguém quebrasse a barreira que eu criei. Ninguém derrubaria o meu copo azul no chão. Porque é vidro. Vidro quebra. Eu não queria quebrar mais copos azuis. De vez em quando eu ainda ouço a voz doce da Irmã Pauline brigando comigo por eu ter jogado o copo no chão e consigo sorrir.
Pois foi quando eu aprendi que qualquer coisa pode ser remendada, mas você sempre vai sentir as marcas de algo que não é mais inteiro, completo. Marie com certeza conseguiu consertar o coração dela, mas ela com certeza não deixou que mais ninguém o segurasse. E eu jamais deixaria que alguém segurasse o meu.
Todos podem ser a Jolie de cinco anos de idade. Todos podem jogar o copo azul de vidro no chão de propósito mesmo sabendo que vai quebrar.
E toda noite antes de dormir, eu bebo água naquele copo. Tento cuidar dele para que não caia novamente, eu não conseguiria juntar os pedaços sem a ajuda da Irmã Pauline.

*Esse é um dos meus textos mais especiais e antigos, tenho um carinho enorme por esse continho.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Heart of glass


Skins não influencia ninguém

Geralmente costumo ficar bastante reflexiva sobre as coisas que assisto e como não faz muito tempo que eu terminei de assistir a segunda geração de Skins - na verdade mesmo, eu terminei ontem -, achei que seria válido falar um pouco sobre o que eu penso da série e também um pouco da minha opinião pessoal sobre o próprio título do post, então aqui está o motivo de eu não achar que Skins influencie os tais jovens a fazer o que é errado.

Primeira Geração
Segunda geração

Primeiramente... 
'Nossa, Alle, mas só agora você acabou a segunda geração?'
Sim, só agora. Uma coisa que me ocorre constantemente é de início uma extrema rejeição diante de algo para depois de um tempo essa rejeição acabar se tornando apreciação. Isso acontece com séries, filmes, bandas, livros e até mesmo com pessoas e geralmente é a minha resposta diante de mudanças, quando eu não as aceito de imediato, então eu demoro um tempo enorme até me adaptar e, durante esse processo, tenho essa tendência de rejeitar as coisas, dizer que não gosto, que não quero nem saber, sou bem extremista com essas coisas. E foi exatamente o que aconteceu com Skins. Quando eu terminei a primeira geração, lá pelos meus 17 anos, tudo era lindo e maravilhoso, a série era um retrato das minhas aventuras adolescentes com os meus coleguinhas, eu tinha ali os meus personagens favoritos e tudo ia muito bem, obrigada! Até que a série muda de geração. (!!) Eu tentei assistir a terceira temporada (introdução à segunda geração), mas simplesmente não conseguia aproveitar quase nada do que via, nem os personagens, nem a história de nenhum deles, a única coisa que eu gostava um pouco era da história paralela da Emily com a Naomi, mas até isso me pareceu meio cansativo e, na minha cabeça, a série tinha se tornado um lixo, então deixei de lado, abandonei mesmo. Só que esse tipo de raiva instantânea que eu crio diante das coisas não costuma durar muito tempo, fui conversando com uma amiga aqui, outra ali e eu acabei criando novamente a curiosidade e o gosto pela série, só que aí eu já estava envolvida com outras séries e outros assuntos totalmente diferentes, logo, a série sobre teenagers problemáticos não parecia mais me envolver tanto como envolveu na época em que eu a descobri. Só que isso também era pura besteira. Quem me conhece - e até mesmo quem não me conhece - sabe que eu não recuso nada que me permita fazer análises psicológicas amadoras e que esse é meu campo de estudo favorito e logo eu me dei conta disso e assim sendo, resolvi dar uma nova chance assim que as outras séries que eu vejo entraram em hiatus e depois também que eu me atualizei um pouquinho mais nas que já estava vendo e que já tinham acabado. E também, eu senti um bocado de saudade de assistir uma série um pouco mais normal, onde a ficção se foca somente nos exageros comuns dessas séries de dramas familiares, nada de aliens com dois corações, pessoas que vão pro inferno e voltam e lutam contra anjos e demônios por toda parte, pessoas que matam como se não houvesse amanhã e nada lhes acontece, cirurgiões plásticos que se deparam com as mais bizarras situações, isso tudo realmente se faz presente nas séries que eu costumo ver, quase nenhuma delas se encontra no rótulo de série familiar ou série realista.

'Ah, mas Skins também não é realista, Alle.' 
Eu preciso discordar dessa afirmação com todas as minhas forças, porque ela é equivocada demais. Skins é realista, sim. É realista até demais. Eu não sei em qual mundo estão com a cabeça os gênios que criaram a nossa boa e velha (e brasileiríssima!) Malhação. Eu gostaria muito de encontrar gente que concorde que adolescentes realmente agem daquela forma e que as rebeldias que eles fazem nessa novela são realmente o ápice de rebeldia ao qual um adolescente pode chegar, ao menos na cabeça deles. Mas é claro que no mundo real isso não existe, é absurdamente utópico. Eu sei do que falo nessa pequena área, mesmo sendo nova demais e, nas palavras do meu pai, não saber de nada sobre a vida, e sei por motivos diversos. Um deles, talvez o principal, é o fato de que eu mesma já fui uma adolescente com os meus problemas, as minhas dúvidas, as minhas crises de identidade e os meus surtos psicóticos e eu não ia até a lanchonete mais próxima da minha casa ou a mais popular da cidade pra beber um suco com a galera, não mesmo. Eu ia pra rua encontrar meus amigos - e na época os considerava realmente inseparáveis - pra gente juntar as moedinhas pra comprar uma bela de uma garrafa de vodka e cigarros e se sobrasse dinheiro, quem sabe um suquinho de pacotinho daqueles de cinquenta centavos pra misturar, só pra bebida descer.
Eu estive exposta ao mundo, mas a diferença ou talvez o sorte, até, é que eu sou esperta o suficiente para não ter permitido que o mundo tirasse vantagem de mim. E eu tive diversos amigos que estiveram expostos assim como eu, por vezes até, na mesma época em que eu estive e eles foram pelo outro caminho, o caminho errado. Os que deixaram o mundo cair com todo o seu peso em cima deles e aí não eram mais shots de vodka e bebidas baratinhas que eram capazes de conter o desespero e a dor, eram drogas, das mais ridículas e inofensivas até as mais fortes, apenas porque eles precisavam sentir alguma coisa. Então eu realmente não sei que mundo paralelo é esse de onde saem as ideias para a Malhação, onde os jovens são tão pacíficos e tranquilos como os retratados na novela. A única resposta mais plausível que eu tenho pra isso é a seguinte: ou eles não são jovens ou são, no máximo, os jovens vistos pelos olhos dos pais. Sejam estes pais ausentes ou superprotetores, mas eles sempre irão ver os filhos como bons filhos, sempre vai ser culpa da influência, mas este é um ponto no qual eu ainda pretendo chegar.

Skins, em contrapartida, oferece o universo dos jovens visto pelos olhos dos próprios jovens. Toda a angústia, todos os problemas pessoais, todos os problemas familiares que recaem sobre os filhos. E, o mais importante, como eles lidam com essas questões e, também, como os pais lidam com seus filhos ou como eles não lidam, por ser difícil demais, por terem medo ou simplesmente porque não se sentem capazes, isso também acontece, pessoas são cheias de defeitos, filhos e pais também estão inclusos, pois também são seres humanos. Eu já ouvi de diversos amigos meus, alguns anos atrás, que tinham de assistir Skins de madrugada ou quando os pais não estavam em casa porque eles não podiam pegá-los no flagra, como se estivessem fazendo algo ilegal. O que já começa por aí, tudo começa nas restrições e no medo que cria uma barreira intransponível entre pais e filhos. A minha dúvida é clara: por que eles não podiam ver? Eu, particularmente, fui criada num ambiente com menos restrições do que a maioria das pessoas que eu conheço, mas também tive algumas, também criei minhas barreiras e medos entre eu e os meus pais - e principalmente entre eu e o meu pai. Mas a falta de algumas dessas restrições me fez ter a mente mais aberta - e eu agradeço por isso - logo, sou uma das pessoas que pode dizer com bastante segurança que Skins não faz apologia às drogas tanto quanto aparenta, tanto quanto a mídia faz parecer. Na verdade, eu penso que se talvez todos esses pais deixassem seus preconceitos de lado e conseguissem acompanhar pelo menos uma temporada inteira da série, é certo de que eles saberiam melhor como lidar com seus filhos e entenderiam que das proibições é que explodem as rebeldias. Perceberiam que nem sempre o dinheiro resolve todos os problemas e que é importante ter uma relação boa com os filhos, que é importante que eles sejam ouvidos e que também é muito importante que eles possam ter sua individualidade, sua privacidade, afinal de contas, são vidas avulsas, passaram a ser a partir do momento em que o cordão umbilical foi cortado e a conexão entre mãe e filho passou a ser apenas a espiritual, se essa barreira também se quebra ao longo da vida por causa dos medos e das proibições, por causa do desejo de ser uma boa mãe ou um bom pai, é essa a marca que vai ficar gravada para sempre nos dois indivíduos.

Eu compreendo que os pais não aceitem que os filhos crescem. Na verdade, chega a ser um processo contínuo, mas eu acredito que em algum momento da vida, as pessoas simplesmente esquecem as experiências passadas. O crescer, para mim, está todo ao redor do ato de esquecer as experiências bobas da adolescência e começar a se preocupar com formação, dinheiro e família. Afinal, a vida se resume a isso, não é verdade? Só que eu discordo. Pais projetam nos filhos sonhos que não puderam realizar e esperam que os filhos se tornem uma extensão deles próprios, assim como os pais deles também esperavam isso e em retrocesso o ciclo se cumpre durante milênios, mas não é assim que as coisas funcionam na prática, não é esse o curso da vida. As pessoas reproduzem, os filhos nascem para perpetuar a espécie, mas eles nascem com seus próprios sonhos, seus próprios desejos e suas próprias vontades, eles são seres individuais e não fazem ideia de que já nasceram com uma proposta e que precisam superar expectativas criadas antes mesmo de virem ao mundo. Expectativas estas que jamais foram as suas próprias, pra começo de assunto. E aí, precisam conciliar essas expectativas alheias com as suas próprias. É claro que pra fugir disso eles vão procurar por coisas que os tornem diferentes dos outros o quanto for possível, eles procuram se individualizar, mas como nenhum ser humano é isolado, eles logo se reconhecem, percebem os outros que também querem escapar das expectativas que os cercam e com isso, eles criam laços. São laços fortes, mas às vezes perigosos, pois estão perto de pessoas que entendem o que eles estão passando. Mas a influência não parte daí, a influência parte de onde começa o desejo de cada um deles de se libertar dos pais, de fazer algo por eles, algo que não estava nos planos de outra pessoa.

Uma coisa que eu sempre tive em mente desde criança é isso, os pais não estão protegendo de verdade os filhos quando os proíbem de fazer algo. A maioria deles sempre vai arranjar um jeito de fazer algo proibido, mesmo os que são folhos de pais mais rígidos. Até mesmo os pais que resolvem trancar os filhos não estão livres da bomba-relógio que tem nas mãos, eles podem até protegê-los dos hematomas externos ou apenas livrar a si próprios da culpa caso algo dê errado na criação, mas esses que foram contidos são marcados internamente, alguns se tornam agressivos demais, outros calados demais, estes guardam segredos e se isolam e seus pensamentos são de dar medo. Descontam suas dores nos outros ou em si mesmos, criam obsessões, vícios. E logo, aquilo que era proteção se torna o maior motivo de todos os problemas. Não, eu não estou culpando os pais e justificando os atos rebeldes dos filhos, o que estou tentando mostrar é que cada ação traz consigo a sua reação e que jamais um castigo vai ter mais poder do que uma conversa franca e uma demonstração de que os pais são alguém em quem se pode confiar. Isso tudo se trata de medo. Medo dos pais em aceitar que os filhos na verdade não lhes pertencem, de aceitar que eles pertencem somente a si próprios e ao mundo. E também o medo dos filhos, ao mesmo tempo em que o prazer proibido de fazer o contrário do esperado também surge. É criada uma relação de medo e segredos entre os pais e os filhos.

E onde a série se encaixa nisso tudo? Na questão dos caminhos tomados pelos jovens pra esquecer dessa pressão toda sobre eles. Da pressão dos pais, da pressão social, da pressão deles mesmos. Cada personagem tem uma história individual que quando acompanhada, nos leva a entender que a "rebeldia sem causa" nunca é realmente sem causa. Eu sou da opinião de que qualquer motivo é um motivo, porque é mesmo. A gente nunca sabe se aquilo foi o suficiente pra quebrar a mente de uma pessoa, mesmo pensando no quanto aquela pessoa foi fraca por se deixar abater por aquilo e mesmo pensando que nós mesmos jamais teríamos procedido daquela forma. Mas pode apostar que alguém também pensa o mesmo sobre você, quando é você quem quebra pelos seus motivos pessoais. Eu não estou julgando ou subestimando as dores de ninguém, longe disso, o que estou querendo dizer é que os seus motivos são seus e ninguém tem nada a ver com eles e você também não tem nada a ver com os motivos das outras pessoas. Cada mente é uma mente diferente. E não é possível mandar na mente alheia, por mais que se possa controlar alguém, os pensamentos dela continuam ali e no final das contas, isso vale mais do que qualquer ordem.

Eu estou feliz de ter perdido meu preconceito com a série, pois dessa vez eu pude assisti-la com outros olhos, pude acompanhar cada drama individual dos personagens e pude analisá-los, compreendê-los exatamente da mesma forma que aconteceu quando vi a primeira geração. Claro que ainda tenho as minhas rejeições, os personagens que gosto mais, os que gosto menos, os que ainda quero falar individualmente sobre. Mas uma coisa que eu sempre quis foi comentar sobre essa minha incompreensão a respeito da restrição dessa série, como se ela fosse realmente o incentivo crucial aos adolescentes e os levasse a fazer coisas erradas. Na verdade, eu sempre vi o contrário, sempre vi os prós e os contras que são mostrados através de cada atitude pelos personagens, o uso de drogas e o que isso traz de ruim, o abuso nas bebidas e como isso os prejudica, mas também o momento certo de se divertir, o momento em que eles, por si próprios, caem na real e dão um rumo às suas vidas. O problema não está em ser influenciado por uma série, ou por uma novela, um livro ou um filme, o que quer que seja, mas sim na cabeça de quem assiste e precisa de algo para culpar, quando na verdade é apenas a falta de coragem de assumir a culpa sobre os próprios desejos e as próprias vontades. Eu não sei se sou a única pessoa que vê as coisas desse modo, mas influência, do meu ponto de vista é apenas isso: falta de coragem e de dignidade para assumir os próprios atos, afinal, ninguém faz algo que não deseja fazer se realmente não desejar isso, ao menos que a pessoa esteja sendo obrigada. É raramente é esse o caso.
Pra mim, é tudo uma questão de consciência.

Tenho inveja dos poetas...


A gente passa a vida toda lendo histórias de amor das mais bonitas. E poemas! Os poemas de amor transmitem aquele sentimento de eternidade, eles nos fazem acreditar que existe mesmo o amor. Queria ter alma de poeta ou de uma dessas pessoas boas e puras ou que apenas uma entre as várias personalidades que assumo de quando em quando fosse a alma de um poeta. Não esses poetas melancólicos e depressivos, mas esses poetas esperançosos, sonhadores, que restauram sua própria fé no amor e que fazem com que os outros acreditem que existe mesmo essa luz no fim do túnel da qual tanto se ouve falar ou que algumas estrelas brilham só para nós no céu. Os romancistas românticos também tem culpa nesse crime. Mas eu não acredito em nenhum deles. Eu só queria ter um pouco da essência dos que ainda creem em algo, queria sentir essa coisa que eles sentem, não sei descrever o que é, pois não a possuo. Não acho que essa essência seja conquistável, que a fé possa ser restaurada em pessoas como eu. Não acho que ela possa ser plantada dentro de pessoas que não a possuem desde o momento em que nascem, como uma sementinha que com o tempo vai crescendo. Algumas pessoas simplesmente nascem sem essa semente, logo, ela não cresce e não existem outros meios de conquistá-la. Não se pode fazer sentir o que não existe e fé é algo que não existe dentro de mim. A frustração que me faz todos os dias amaldiçoar todos os românticos e poetas do mundo é apenas inveja. Os invejo absolutamente por terem nascido com a capacidade genuína de regenerar-se através da esperança que possuem e da fé. Eles praticamente renascem, remontam-se quando quebram e quase nem conseguimos ver as rachaduras. E eu os invejo miseravelmente por ter nascido apenas com as sementes do drama e da tragédia em mim. E mais ainda, porque possuo a semente do amor e este se torna miserável e confuso sem a semente cheia de esperança que cresce ao lado dele. Eu posso criar as histórias mais pavorosas, posso penetrar no cenário do medo e do pânico e conheço a dor como ninguém mais, até mesmo as dores que não vivi, eu falo delas como se as tivesse sentido na pele. Posso falar das surras da vida tendo vivido apenas duas décadas, mas me sinto incapaz de dizer - e crer - que os poetas não mentem. Que se danem os poetas! É tudo o que eu digo, pois eu tenho a mais pura inveja de não poder compreender o mundo da forma como eles o compreendem. Que eu talvez veja o mundo com os pés no chão e a realidade esmagada bem na ponta do meu nariz, é verdade. Mas queria vez ou outra conseguir sonhar e acreditar nos meus sonhos, queria ver o que é belo e saber apreciar as cores. Queria saber como é o amor visto pelos olhos de alguém que acredita que ele não tenha sido plantado em nós apenas para machucar e torturar. Mas alguns, tais como eu, não nascem com essa capacidade. Eles não possuem essa semente.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Think about your future...

Então tá, vamos falar sobre o Kevin!

Um dos livros que eu mais gostei de ler esse ano até o mês presente foi, definitivamente, "Precisamos Falar Sobre o Kevin" de Lionel Shriver e achei mais que válido que a minha primeira postagem envolvendo ambos os assuntos livros e filmes fosse sobre ele. O texto pode conter spoilers, por se tratar de impressões pessoais que eu tive sobre o livro e sobre o filme. 


― x ―

O LIVRO: Eva Khatchadourian nunca quis ser mãe, isso é evidente. E o que é ainda mais evidente são as consequências refletidas na personalidade de um filho indesejado. Kevin não chega a ser um desses psicopatas simpáticos, mas há algum charme na construção de seu personagem. Por alguma razão, talvez particular, ele seja um personagem que eu entendo e, assim sendo, não o definiria como um vilão. O livro em si é um retrato valioso do quão importante a decisão de ter um filho pode vir a ser na vida de um casal e que, se uma das partes não o deseja tanto, a propensão do filho vir a ter diversos distúrbios psicológicos é grande. E a chance é muito maior se a rejeição vem da mãe. Eu não colocaria, tampouco, a Eva como vilã da história, pois posso dizer que em alguns pontos até compreendo a personagem e pude até me identificar com ela. Esse não é um livro sutil, uma leitura leve. Eu imagino que para cada tipo de pessoa ele desperte uma reação, como por exemplo, uma mãe lendo esse livro ou uma moça com o desejo desde o berço de dar a luz à sua prole, certamente colocariam Eva no papel de vilã num estalar de dedos, a apontariam como culpada sem nem pensar. Vamos analisar de forma fria os fatos, psicopatas às vezes nascem dessa forma e não há nada que pode ser feito para mudá-los. Kevin jamais foi maltratado em casa, a falta de atenção da mãe era sempre preenchida pela atenção excessiva do pai, para uma criança normal seria suficiente, ele no máximo iria criar algum desprezo pela mãe. Mas é aí que está o ponto alto, Kevin sentia uma espécie de admiração pela mãe e pela honestidade dela. Eva sempre conseguiu ver o Kevin de uma forma que o Franklyn jamais conseguiu e era como se aquilo fosse um segredo mudo entre os dois. A verdade é que Kevin e Eva tinham um laço estranho um com o outro. O Kevin, no fundo, sentia pelo relapso da mãe em relação a ele. Então ele torturava a mãe como podia, colocando sempre o pai contra ela, fazendo ela parecer louca, desequilibrada ou mesmo lá atrás, desde criança, quando negava a ela os pequenos prazeres da maternidade, como se ele soubesse que estaria assim castigando-a. E durante toda a minha leitura era como se eu pudesse enxergar o tempo todo o rosto do Kevin sorrindo de maneira maldosa para a Eva, enquanto o Franklyn o defendia de mais um de seus pequenos atentados contra ela. E podia ouvir ele dizer mentalmente enquanto sorria: "Ele sequer imagina, mas você sabe, não é mesmo? Você me conhece." Era isso que a aterrorizava mais, porque ela não podia fazer nada se não esperar pelo dia que chegaria a tal notícia. O que eu penso é que ela sempre soube, é claro que sim, mas não tinha como impedir que acontecesse.

A minha nota: ★★★★★

Trecho do livro: 

"Mas andei refletindo sobre o fato de que, para a maioria de nós, há uma carreira sólida, intransponível, entre a depravação mais imaginativamente detalhada e sua execução na vida real. É a mesma sólida parede de aço que se interpõe entre uma navalha e meu pulso, mesmo quando estou no mais extremo desconsolo. Então, como foi que Kevin pôde levantar aquela balestra, apontá-la para o esterno de Laura e realmente, de verdade, no tempo e no espaço, disparar a flecha? Só posso presumir que ele tenha descoberto o que eu nunca desejo descobrir. Que não existe barreira. Que, tal como minhas viagens ao exterior ou esse plano ridículo, com trancas de bicicleta e convites em papel timbrado da escola, o próprio ato de disparar pode ser decomposto uma série de partes integrantes simples. Talvez seja tão pouco milagroso apertar o gatilho de uma balestra ou de um revólver quanto pegar um copo d‟água. Temo que passar para o “impensável” se revele tão pouco atlético quanto cruzar a soleira de um cômodo comum; e o truque é esse, se você quiser. O segredo. Como sempre, o segredo é que não existe segredo algum, Ele deve ter quase sentido vontade de rir, embora não seja esse o seu estilo; aqueles garotos de Columbine realmente riram. E, quando o sujeito descobre que não há nada para detê-lo — que a barreira, aparentemente tão intransponível, está toda na cabeça —, deve ser possível avançar e recuar na soleira repetidamente, um disparo após outro, como se um bundão que não intimida ninguém houvesse feito um risco no tapete que você não deve cruzar, e você, e gozação, pulasse por cima dele, para frente e para trás, numa dancinha zombeteira."

O FILME: Eu aprendi a julgar filmes adaptados de obras literárias de uma forma diferente da que eu fazia antes. Eu vi o filme bem antes de chegar a ler o livro e, de fato, não dá pra entender muita coisa com a profundidade que o livro oferece, mas a produção e a fotografia do filme é belíssima. E é disso que o cinema se trata, os livros nos oferecem todo um exercício mental, uma viagem pela nossa imaginação, somos livres para tornar a história que estamos lendo um pouco nossas, isso faz com que o envolvimento com os livros seja mais íntimos. O cinema já é uma arte que agrada os nossos olhos e é possível relaxar, é uma experiência bem menos cansativa que a da leitura, mas nunca menos prazerosa. A adaptação de "Precisamos Falar Sobre o Kevin" é excelente, em comparação a outras adaptações de livros que existem por aí. Eu não sou um tipo de pessoas que não consegue separar o personagem que eu vi no filme do personagem que está descrito no livro, porque muitas vezes no livro o personagem é gordo e no cinema com certeza ele vai ser magro, mas com esse livro ter visto o filme antes não me afetou pelo simples fato de que: Ezra Miller é o Kevin e Tilda Swinton é a Eva. O casting do filme não poderia ter sido mais oportuno. E o filme até conseguiu ser bem fiel ao livro, apesar do ritmo um pouco acelerado e confuso. Como o livro é escrito no formato de cartas e nessas cartas constam as memórias da Eva durante toda a infância do Kevin até o grande dia, já o filme não conta a história na visão da Eva e sim como acontecimentos desconexos no formato de lembranças. Eu digo que é confuso, porque depois que você lê o livro obviamente vai sentir falta de uma coisinha aqui e uma coisinha ali, mas o que eu me incomodei mesmo após ler, foi a "vilanização" do Kevin na adaptação, que não acontece no livro do mesmo modo que no filme. Mas fora isso, a película é tão incrível quanto o livro.

A minha nota: ★★★★☆

Protestos contemporâneos e suas controvérsias...


"O maior inimigo de um governo é um povo culto."

Que eu nunca fui muito patriota, isso não é novidade. Quem me conhece sabe que eu nunca me orgulhei do meu país e nunca abracei essa nação como a maioria das pessoas fazem, eu nunca tive um bom motivo pra me orgulhar muito de um país mal administrado, com um povo de mente tão fechada e tão infinitamente manipulado. Também nunca fui extremamente ligada aos assuntos políticos, se me perguntar, eu sinceramente não sei muito sobre. Mas é impossível ignorar o assunto totalmente quando algo como os últimos acontecimentos explode bem na nossa cara. Nos últimos dias com todo esse "surto revolucionário", pude até experimentar um pouco desse "orgulho de ser brasileira", que até então eu não conhecia. Primeiramente, deixo bem claro que eu apoio o movimento e eu dou todo o meu incentivo à quem está lá lutando e acreditando, afinal, todo tipo de protesto é válido. Até mais do que isso, eu acredito nas pessoas que estão lá, eu respeito com todo o meu coração o que elas tem em mente, porque pela primeira vez é algo que não está relacionado ao futebol, é algo importante.
Eu não, eu não fui pras ruas e não sei se pretendo. No Facebook eu não paro de receber convites para participar dos protestos, aqui em Curitiba já devem estar no quarto ou quinto ato, enquanto a Região Metropolitana, que é onde eu vivo também está se organizando para também apoiar a causa, mas o primeiro ato só irá ocorrer no sábado (22). No primeiro momento, eu quis ir, quis me sentir parte da história, parte do Brasil, parte de algo que vale à pena, porém depois eu acabei repensando sobre todo o movimento, desde o início dele e acabei percebendo que o foco desses protestos ainda não estão exatamente centrados, não estão bem focados e nós ainda estamos sendo motivo de piada para o Governo.
Não estou, de forma alguma, desmerecendo o movimento todo, eu aprecio o que está sendo feito, até tenho um bocado de fé no país, acho bonito ver que o povo está acordando e que está caminhando pelas ruas e gritando pelos seus direitos. Mas muita gente ainda não abriu os olhos de verdade e isso é um fato. Alguns só mudaram de lugar, "saíram do Facebook" e foram conduzidos até as ruas e estão lá segurando cartazes e berrando, mas eles não sabem nem o real motivo daquilo. Acredito eu que muita gente ainda deve estar pensando que o protesto todo se deve à revolta sobre a tarifa do transporte pública e os gastos com a Copa  das Confederações, quando isso na verdade foi apenas a gota d'água.
Esses protestos são apenas um começo dessa revolução que o Brasil tanto quer ver e estão longe de ser a solução se o esperado for que continue da mesma forma desde o início até o fim. É claro que eu adoraria que os problemas do país pudessem se resolver com o mínimo de violência possível, uma revolução que promovesse a paz e toda essa vibe Lennon&Yoko de "war is over", mas no mundo real não é assim que funciona e até eu sei disso. Não é assim que se faz história. Mas ainda vou chegar nesse ponto.
O ideal que foi iniciado com esses protestos está corretíssimo, eu tenho certeza que até hoje, todos os protestos em prol de causas grandes também tinham esse desejo utópico de agir sem violência, afinal de contas, todo mundo prefere não morrer por uma causa. Mas aí fica a grande dúvida: os mesmos ativistas que estão agora lá fora estariam dispostos a morrer pela pátria amada? Muitos já sangraram por ele nas manifestações, pois os protestos começaram pacíficos e se tornaram um caos enorme principalmente nas grandes cidades como Rio de Janeiro e em São Paulo. Não soube de muitos transtornos aqui em Curitiba, mas provavelmente também não deve ter sido de toda a paz, afinal, mesmo sendo um evento de paz, foi um evento que nasceu da raiva e da frustração do povo brasileiro.
O povo todo tem muita raiva acumulada. Muitos mantinham essa raiva em casa, os mais jovens descontavam no Facebook e no Twitter e ai então eles resolveram sair nas ruas e exteriorizar toda essa raiva, toda essa revolta. Por um lado, toda essa conexão do mundo com a rede fez com que a notícia se espalhasse muito mais depressa do que antigamente aconteceria, onde seria necessário esperar a televisão falar sobre ou mais antigamente ainda quando era necessário esperar a publicação dos acontecimentos no jornal. Sair nas ruas foi a parte boa e correta, foi esse sentimento de raiva e toda essa frustração que os tirou de casa que os levou até as ruas. Mas raiva é um sentimento que cresce, até porque essa raiva que nós temos é uma herança de pátria, vem desde os abusos sofridos enquanto éramos ainda Brasil-colônia e vem nos alimentando de raiva e indignação através dos tempos. O que me leva a pensar que é tanta raiva guardada que demorei até demais pras pessoas decidirem que era hora de agir. Porém, chegamos aqui no empasse: eu não vejo sentido em começar uma revolução que não se tenha a intenção de terminar. Se é pra fazer uma guerra, que seja pra valer e que sejam vistos os resultados. E não, eu não estou sendo radicalista, o cenário que muitos visualizaram durante os protestos foi um cenário de guerra. É desse modo que elas começam, não tem como se iludir e pensar que isso é tão diferente do que se vê nos livros de história.
Mas aí entra um dos pontos importantes, que é o foco do povo, o que eles estão querendo alcançar de verdade? E o que eu vejo aos montes nesses protestos é uma falta de foco enorme, eu acho que a maioria das pessoas não sabe exatamente pelo quê elas estão brigando e gritando.
É tudo muito bonito de se ver, mas por enquanto esse também é o maior problema, tá bonito demais. O povo está sendo passivo-agressivo demais. Eles ainda não estão incomodando o Governo o suficiente para que eles ouçam a nossa voz, a prova disso é esse projeto da tal "Cura Gay", enquanto o povo está protestando de um lado, os políticos estão lá do alto rindo da nossa cara e nos cutucando mais ainda. Mas tudo começa com pequenos passos, sei que começamos pela tarifa do transporte público, que de fato é um absurdo e aí resolveu, mas eu tenho medo que o povo se contente com as esmolas do Governo e que eles se curvem novamente diante do pouco que é oferecido para que sejamos silenciados. Essa manipulação acontece desde que o mundo é mundo, mas o que me deixa mais admirada é que, desde que aprendi a falar sei que "a maioria vence" e, até onde sei, existe mais povo do que políticos e mesmo assim nós somos controlados como marionetes. Como é que as pessoas não conseguiam perceber isso?
É aqui que entra a maior das ironias. Querendo ou não, o nosso sistema é democrático. Pode ser uma democracia bem torta, mas ainda assim não deixa de ser uma democracia, pois, enquanto ainda for possível votar em candidatos que nós mesmos escolhemos, somos considerados um país democrático. E se nós fazemos parte das decisões do país, então nós somos sim os culpados por esse caos, pois quem colocou a Dilma lá em cima? "Ah, mas eu não votei na Dilma!" Agora todo mundo tem esse argumento, mas ela jamais teria chegado a presidência se a maioria não tivesse colocado ela lá em cima. Aqui, eu voltaria no tópico sobre a educação, mas ainda vou chegar lá, deixarei esse assunto para o final.
Eu vou dar um exemplo em proporções menores, para explicar a minha linha de raciocínio sobre a falta de informação e sobre como o povo se dobra facilmente diante dos candidatos. O exemplo é da minha própria cidadezinha metropolitana que nas eleições passadas elegeu um antigo prefeito da cidade que havia sido simplesmente péssimo com o povo e com as necessidades do povo. Eu morei em um bairro no tempo de mandato desse prefeito onde as ruas não possuíam sequer anti-pó. O que aconteceu? Depois de vetar as obras várias e várias vezes, ele ironicamente chegou a dizer que só faria a reforma das ruas se trouxessem a ele um abaixo-assinado com a assinatura de todos os moradores do bairro. O que aconteceu é que foi a minha mãe que bateu de porta em porta colhendo assinaturas das pessoas. Eu lembro, eu estive lá. Eu vi pessoas se recusarem a assinar porque não queriam se envolver, pessoas que "logo iriam se mudar" e que a elas não interessava participar. Mas o número de assinaturas que ela conseguiu foi grande, o prefeito precisou ceder, mas não foi de bom grado. Eu até me lembro quando eles começaram as reformas por lá, o anti-pó foi tão precário que não resolveu muita coisa, mas aí não tinha mais o que fazer. Então a gente se mudou pra outro bairro, que é o bairro onde eu moro agora.
Que é trabalho dos vereadores cuidar dos bairros, isso todo mundo sabe. Eles servem pra manter a ordem, mas a maioria na realidade só quer mesmo é saber do dinheiro, porém, apesar de provavelmente parecer piada, nem todo político é corrupto, existem políticos que realmente se empenham em cuidar das pessoas. O nosso digníssimo prefeito da história do anti-pó, que perdeu na eleição anterior, porém, nessa do ano passado, venceu. O que ele fez logo no primeiro momento do seu poder? Cortou a verba dos vereadores que é destinada a cuidar do povo nos bairros. "Ué, mas isso não é bom? O dinheiro seria todo desviado mesmo...", é o que você se pergunta. Mas como eu disse, nem todo o político é corrupto. Aqui no meu bairro existe uma dessas raridades. Um dos vereadores daqui sempre ajudava o povo com esse dinheiro, comprando os remédios que não podiam ser retirados no posto de saúde e até mesmo ajudava com equipamentos pós-cirúrgicos necessários para recuperação, como muletas e cadeiras de rodas, transportava as pessoas de carro quando elas precisavam de atendimento na área da saúde. E isso sem cobrar nada. Eu disse nada, nunca vi em todos esses anos esse vereador pedindo votos para as pessoas que conheço e que já precisaram da ajuda dele em troca dos favores, ele fazia isso pela sua obrigação com o povo. E o que aconteceu? A maioria das pessoas não votaram nele na eleição passada. As mesmas pessoas que ainda vão lá atrás dos favores. E os favores à respeito da saúde são só uma face das muitas coisas que eu já vi esse homem fazer pelas pessoas.
Pelo que sei, ele quase perdeu o cargo nessa eleição e, claro, ficou frustrado com as pessoas. O prefeito vetou o dinheiro destinado ao povo, confiscou os itens de uso público e isso só pra começar. Eu também fiquei frustrada com o povo. Mas mais do que isso, eu fiquei absolutamente incrédula com a falta de inteligência e a falta de informação do povo. A capacidade que as pessoas tem de se curvar diante do Poder por nada mais que, talvez, uma cesta básica na época das eleições ou reformas que automaticamente congelam assim que as eleições acabam.
A história toda do vereador daqui do bairro não é lenda pra criança dormir, é verídica. A minha própria mãe - que considero uma mulher extremamente forte por tudo que já passou - foi submetida a diversas cirurgias já e precisou desses cuidados todos, necessitou usar uma cadeira de rodas por um bom tempo quando operou a coluna e facilitou muito a nossa vida ter essa ajuda, ela também precisou de muletas em outra ocasião. Fora os remédios pós-cirúrgicos que são caros, o tratamento todo pós-cirúrgico até que a pessoa se recupere e fique novamente saudável é caro. A nossa saúde é algo que custa caro, pra ser sincera. Agora peço apenas imaginem como seria se ela operasse hoje? Sem a verba, sem ajuda alguma do governo, tendo que depender do SUS e da própria sorte. E eu estou falando apenas de um bairro. Mas é o comportamento desse bairro que eu vejo refletido no comportamento de todo o país e que resulta em pessoas como a Dilma no poder, usufruindo dos nossos bens, do nosso dinheiro pra saúde. E tudo isso por quê? Porque o país não tem instrução.
Eu finalmente cheguei no ponto crucial disso tudo. Toda a deficiência do Brasil está na educação. E esse é um problema centenário. Os protestantes e os ativistas que me perdoem, mas vamos abrir os olhos de verdade, o maior problema não é a Rede Globo ou a televisão. Vi muitos dos ativistas reclamando das informações manipuladas da televisão, mas eis o grande fator: a televisão NÃO É o único meio de informação. O problema já está instalado aqui, na mente de cada um dos brasileiros, desde muito antes da televisão se tornar um bem-comum. A qualidade de ensino do Brasil é precária desde muito tempo, porque o país não quer pessoas inteligentes e bem instruídas, o país quer pessoas ingênuas, pessoas fáceis de enganar e de manipular. Pessoas que acreditam em discursos de políticos que alegam que "já foram pobres" e que são "gente como a gente". E o povo compra essa baboseira, o povo se entrega fácil, se comove por um bocado de palavras e se curva de olhos fechados, porque não tem instrução o suficiente pra discernir meia dúzia das palavras que são usadas para confundir a cabeça das pessoas, eles não aprenderam a interpretar e nem a ler em entrelinhas, não sabem identificar ironias e, definitivamente, não sabem PESQUISAR ANTES.
Sim, pesquisar. Eu vejo na internet, pelo menos uma vez ao dia, descobertas feitas pelas pessoas que são aterrorizantes. Desde os assuntos encontrados na famosa DeepWeb, mas até mesmo ao que se encontra ali no raso, na SurfaceWeb. Todo político antes de ser político é um ser humano e seres humanos cometem erros. Mas me diz você, caro cidadão ativista e caro colega protestante, no que vai adiantar desenterrar esses erros depois de ter colocado qualquer pessoa lá em cima para nos governar? Caçar informações comprometedoras e "atirar a merda toda no ventilador" não vai fazer diferença alguma depois que o grandão já está lá em cima e bem acima de nós. Os protestos não vão fazer com que a Dilma seja derrubada. E se ela for, quem vai assumir o país no lugar dela, vai ser alguém ainda pior, o Governo não vai se curvar diante do povo e iniciar uma nova campanha política porque o povo está insatisfeito com o líder que foram eles mesmos que escolheram. Oh, sim, o Brasil já derrubou um Presidente antes. Sim e muita gente precisou morrer e dar o próprio sangue pra isso funcionar, coisa que os ativistas modernos não me parecem estar muito empolgados em oferecer.
É claro que se você cutuca demais um vespeiro, pode demorar, mas uma hora elas vão ficar irritadas e vão vir atrás de você. Com o povo e com o governo é a mesma coisa, o governo cutuca o povo com uma vara, cutuca por anos, com juros que - pra quem não tem informação - quase nem podem ser notados, esses juros aumentam todo o mês, o salário dura cada vez menos, o dinheiro parece magicamente desaparecer e as pessoas continuam pobres, mas trabalhando honestamente e carregando no peito o tal "orgulho de ser brasileiro". E daí, não é verdade? No final de semana tem jogo! Tudo que importa é uma cervejinha - e mais juros - e uma televisão, não é verdade? Mas isso não acontece porque a Globo impôs que fosse assim, isso acontece apenas porque o tal senhor cidadão não sabe pra onde deve olhar. Comprar jornais deveria ainda ser um hábito. LER deveria ser um hábito. Em contrapartida, o povo finalmente cansa e resolve atacar o governo com os protestos, mas eles ainda não sabem como devem atacar, eles só tem uma ideia muito boa, mas não possuem sequer informação o suficiente para traçar as suas estratégias.
A solução óbvia é que, se o país não nos dá a educação necessária que nós precisamos, então primeiramente é necessário que se trabalhe nisso, a revolução deveria começar com os professores, estes deveriam levar aos seus pupilos o conteúdo que os fizesse acordar. E os protestos devem continuar, o povo não deve recuar e nem desistir, mas é preciso que se tenha em mente o que esperar, é preciso que o povo tenha consciência de que isso pode crescer, que isso PRECISA crescer. Que uma revolução tem um preço alto e que fazer história não é brincadeira. Eu tenho fé no povo, sim, mas ela não é cega. Como venho dizendo desde o início desses manifestos, é muito bonito o que todo mundo vem fazendo, o envolvimento é a coisa mais bela de se ver, lindos cartazes, até ouso dizer que alguns conseguem encontrar um pouco de diversão nestes protestos, mas, querendo ou não, é preciso se focar na raiva que carregamos em nós. A raiva de sermos sempre passados para trás, a raiva de sermos enganados, humilhados, feitos de bestas. A revolução deve continuar, deve ser levada até o fim. O Brasil precisa entender que não existem conquistas sem pelo menos um pouco de sangue derramado. Eu não estou promovendo a violência, estou promovendo fatos.

FOCO, BRASIL! FOCO NO QUE É IMPORTANTE!

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Pesadelos


Meus sonhos são repletos formas perturbadoras e simbolismos que não fazem sentido algum quando eu acordo. Eles me apavoram, me assustam constantemente e ultimamente, muito mais do que o normal. Em alguns deles, não posso correr, desde sempre, desde que me lembro de ter começado a sonhar, sonho com situações onde preciso correr e minhas pernas não me obedecem, eu corro, mas continuo no mesmo lugar e isso me desespera. Às vezes consigo fugir no último momento, mas na maioria das vezes, sei que estava prestes a morrer, pois acordo exatamente como se a vida tivesse sido estocada dentro de mim de uma só vez e eu tivesse sido golpeada com força, pois aí eu acordo suando, com medo de fechar os olhos novamente. Em outros momentos, é como se não possuísse cordas vocais para gritar. Me sinto sempre impotente, indefesa e aterrorizada e grito, mas ninguém me ouve. Quando tento exteriorizar o meu pavor, não sou capaz de mover sequer um dedo, estou paralisada, vendo tudo acontecer ao meu redor e sem poder distinguir o que é real e o que não é. A boca parece ter sido lacrada ou se abre de forma medonha e emite um som bizarro, não chega a ser um grito, pois não tenho voz. Depois de todo o pânico, a vida retorna com um suspiro agoniado, os olhos se abrem de uma só vez e eu sinto o mais puro medo de fechá-los outra vez e novamente me sentir presa dentro de mim mesma. Talvez esteja apenas gritando por socorro sem som algum porque é isso que venho fazendo a minha vida inteira. Preciso de ajuda e não peço, não consigo correr, mas não digo. Ainda subo as escadas rastejando com a ajuda das próprias mãos como se eu fosse um animal, pois quase não tenho mais forças para subir ereta e me sentir grande. Sou na verdade pequena, miúda. Miúda e sem voz. Meus sonhos me assustam, são como contos eróticos e grotescos, o sexo lá é vulgar e nojento, fazem eu me sentir suja e sem pudor quando acordo. Sinto medo da frieza com a qual sou capaz de decepar a cabeça de um pobre coitado que me tenta possuir à força e sinto medo da segurança e prática com a qual seguro um revólver entre os dedos e miro na minha própria cabeça, dando risada. Sinto medo quando não consigo fugir, mas sinto ainda mais medo quando me defendo. Meus sonhos são repletos de escuridão, de sangue e de falta de nexo. Eles são perturbadores. E eu não me sinto forte nem mesmo quando sou capaz de matar, não me sinto forte quando não posso gritar ou correr e também não me sinto forte quando sou capaz de gritar, de bater e de brigar. Eu não me sinto forte. 

Oh, My Dear Valentine



Valentine tinha belos olhos azuis e cabelos cor de cobre que brilhavam mais que o próprio sol, se as metáforas repetitivas e banais ainda forem permitidas. E ela tinha a leveza de um pássaro quando rodopiava nas pontas dos próprios pés e orgulhava a professora de balé com seu esforço e dedicação. Valentine não se cansava de se dedicar à essa paixão, ocupava todo o tempo livre que tinha com um sonho recorrente, via-se em um imenso teatro onde ela dançava bem no centro e milhares de pessoas aplaudiam. Valentine, a bailarina Valentine. Doce, bela, inocente. Rodopiando alegremente pela sala, em frente ao espelho. Os olhos cansados de tanto ensaiar, uma vez e outra e mais outra os mesmos passos. A mãe chama para o almoço, mas amanhã é dia de audição, Valentine não pode comer. Ninguém julga os esforços de Valentine como esforços em vão, Valentine é a menina dos olhos de todos. O pai de Valentine estaria orgulhoso, mas tudo que Valentine ainda possui dele é a velha fotografia que guarda junto ao abajur no móvel ao lado da cama. Ela dá um beijo no pai todas as noites antes de dormir, conversa com ele e lhe conta os seus sonhos. A mãe atrás da porta desejaria que Valentine lhe contasse seus sonhos e desejos. Eu estou bem aqui, pensa, carregada de melancolia e rejeição. Se sente amarga. Valentine apaga as luzes e dorme com o retrato do pai contra o peito, todas as noites. E a mãe não pode dizer nada, mas chora sozinha no quarto ao lado, todas as noites. Chora costurando a saia cor-de-rosa de tule de Valentine. Chora consertando suas sapatilhas com fitas de cetim para que fiquem confortáveis. Valentine é bela, parece uma pintura delicada, mas por dentro está desmoronando como uma construção milenar às ruínas. O corpo todo treme, pois Valentine não come há dois dias. Precisa estar perfeita, precisa estar bela, precisa impressionar a professora e orgulhar o pai. Precisa fazer tudo por todos, mas esquece de fazer algo por si. Valentine ama o balé, mas ainda se lembra do quanto amava os bolos gelados de chocolate aos sábados de manhã que o pai passava a noite de sexta assando. Hoje os bolos são uma lembrança, que Valentine apaga com um sorriso sem verdade lançado aos estranhos que a cercam, enquanto tenta equilibrar-se na ponta dos pés. Seu equilíbrio é perfeito, seus ossos ainda são fortes, mas seu coração quebra sempre que se lembra dos bolos do pai, do sorriso do pai, dos abraços aconchegantes do pai. Valentine chega em casa arrasada, a audição não foi boa o suficiente. Na próxima você estará preparada, lhe disseram os juris. A professora olhou para ela com decepção. A mãe não entendeu, ela nunca entendia e Valentine nunca queria falar. E o pai deveria estar decepcionado. Que se danem, pensa Valentine e atira com toda a força o porta-retratos com a fotografia do pai contra o espelho. Vê sua imagem refletida se despedaçando, as lágrimas borrando a maquiagem tão cuidadosamente modelada para o dia que deveria ter sido grande. Observa a própria figura esguia e faminta diante do espelho, sente-se miúda e fraca. Os joelhos cedem ao corpo e ela pouco se importa com o tutu recém costurado pela mãe que ainda leva ao corpo. Que rasgue, eu não me importo. Apanha a fotografia do pai entre os milhões de cacos de vidro, a única palavra que consegue pronunciar é perdão. Os cacos de vidro no chão lhe parecem charmosos quando apanha um deles entre os dedos e o observa com cautela. Não sabe calcular qual foi o tempo necessário para render-se ao encanto que sentia pelo brilho de suas pontas irregulares, nem o momento em que obteve sua redenção. Largou a foto de lado e o vidro passeou pela pele da coxa, um pouco acima de onde a saia delicada cobria. A meia fina foi rasgando junto com a pele e a coloração passando do rosa-claro para o vermelho vivo e viscoso, feito tinta sem diluir. As lágrimas pareciam mais quentes, mas a dor que sentia a fazia se sentir pura, não pensava no pai, na professora, nos juris ou na mãe. Não pensava nos bolos de chocolate aos sábados, nas refeições que andou pulando pelos últimos dias. Não tinha culpa, além da própria culpa de existir. Sentia-se íntima consigo mesma, sentia dor e a dor silenciava todos os seus pensamentos confusos. Valentine encontrou a chave para um segredo que jamais deveria ser desvendado. Hoje, três anos depois de sua descoberta, Valentine não se sente mais pura e sim frustrada. Sabe que desconfiam do seu segredo e isso já não importa. Hoje, depois de três anos, conseguiu um papel importante em uma peça importante. O Cisne Negro. E o Cisne Branco, também. Entendia o sarcasmo dessa metáfora muito bem, mas era como uma piada de si para si mesma. E não ousava rir de sua própria desgraça. Valentine estava tão sozinha que suas melhores amigas haviam se tornado estilhaços de um espelho que refletiam a sua própria imagem. Mas ela se via por dentro. E ninguém mais a via por dentro daquela forma. Era apenas ela e ela. Valentine e Valentine. O Cisne Negro e o Cisne Branco. A Bailarina e seu Demônio.

Silêncio

O silêncio aqui se torna perturbador quando estou sozinha com os meus pensamentos. Me sinto oprimida, encurralada e não ouço nada, nada além desse maldito silêncio. Por mais que esteja miseravelmente sozinha, minha cabeça faz um barulho do inferno, que equivale a um time de futebol inteiro depois de uma derrota. Chego a ficar quase surda e tenho certeza de que estou ficando louca, mas aqui fora o silêncio é tão imensamente perturbador, que não sei onde é pior: na minha cabeça barulhenta ou nesse vazio penoso em que me encontro. Diria que nenhum dos dois, pra ser sincera. Sinceridade é bom, aprendi isso desde muito jovem. Mas também é a sinceridade que cedo ou tarde nos leva a todo esse silêncio horroroso. Minha cabeça chega a doer, porque lá dentro faz tanto barulho e lá fora é tão silencioso que não existe contraste, existe só uma confusão enorme. Tenho certeza de que estou ficando louca. Estou louca e sozinha. 
Sozinha nesse silêncio do inferno.

Les yeux souriants


Os olhos dela, eu sei, sorriam pra mim mesmo sem saber. Talvez não seja verdade, talvez pertençam hoje a outra pessoa. Mas não, eu sei que aquele sorriso, aquele sorriso era meu. Aquele sorriso com os olhos, aquela esperança afundada, escondida onde só eu podia ver. Hoje ela exibe estes olhos sorridentes ao mundo, aos outros, ao seu alguém. Digo a você diretamente, minha querida, que antes de mais nada, peço que se lembre por apenas um segundo de quando estes seus bonitos olhos sorriam só pra mim.
Os olhos dela sorriam e logo, eram os lábios que estavam sorrindo também. A risada no telefone, a frase que escapulia sem perceber. O silêncio após o que não devia ter sido dito, a nossa compreensão. A voz que eu tanto gostava. Mas ainda cismo mesmo é com os olhos, os olhos dela, que sorriam para mim. E eu vi de novo esses olhos, como se estivessem esperando que eu os visse. Sorriam pra mim como sorriram outras vezes.
Pode ser que não seja verdade, pode ser - talvez seja - que eu esteja mesmo louca, mas digo o que vi e aqueles olhos estavam sorrindo secretamente para mim.

Tortura


Sinto as garras fortes ao redor do meu pescoço, a pressão é tão forte que é muito difícil respirar. Quanto mais eu tento, mais difícil parece ser. Começo a desejar que me mate logo, porque o desespero é insuportável, então gentilmente as garras se afrouxam, permitem que eu respire, mas não me livram. O que elas gostam mesmo é de me torturar, quando estou novamente respirando bem, quando o alivio é tão grande pra me preencher por completo, novamente as suas garras se apertam ao redor do meu pescoço, novamente sinto como se estivesse prestes a morrer. Essas garras são afiadas, mas percebo que quem as possui toma o extremo cuidado de não me ferir de maneira fatal. Não posso morrer e muito menos descansar, a brincadeira é outra, a graça também deve ser outra. Passo novamente pela difícil situação de não conseguir respirar direito, quero desistir, mas quando estou prestes a me entregar, sinto a sua gentileza distorcida novamente, até acredito que a criatura que ali me tortura, no fundo se importa comigo. Ela na verdade não se importa, mas eu não posso morrer. Não duvido que eu vá morrer pelas suas garras, pelo veneno das suas unhas, mas percebo que ela toma todo o cuidado para que isso não aconteça. Acho que ela deve ser um pouco sádica. Com o tempo, quando ela demora muito para enganchar-se em meu pescoço novamente, começo até a sentir falta de dificuldade de respirar, sinto falta de lutar contra ela e me debater. Às vezes acho que nos momentos em que ela me deixa livre, sou tão livre que posso fugir, mas não tem jeito, ela sempre volta, não me deixa ficar distante o suficiente para que eu me perca das suas vistas. Não sei nem se ela me enxerga, se realmente me vê como eu me vejo. A única coisa que eu sei é que o seu maior prazer é me ver sem ar, lutando pra viver. Ela gosta de ir longe, jogar perigosamente, já quase morri em suas garras diversas vezes, mas aí a minha criatura mostra a sua compaixão torta por mim e me solta, se ela tivesse olhos, tenho certeza de que poderia capturar neles toda a sua confusão. Mas a vejo pela alma, a minha criatura não sabe o que quer, ela tem vontade de me matar, mas acho que alguma coisa a impede. Não sei o que é. Acho que um dia desses ela ainda arranja o que precisa pra enfiar-me as suas unhas e envenenar-me de uma vez, posso até imaginá-la a cortar-me as veias. Um dia ela ainda consegue. Eu vejo no fundo da sua alma confusa, sei que um dia desses minha criatura vai cansar de me torturar e de brincar comigo e aí então ela me mata. Eu posso ver isso lá longe, nos olhos que eu não vejo.
Mas por enquanto ela se diverte me torturando aos poucos.