quinta-feira, 20 de junho de 2013

A morte que ninguém vê


Eu me sinto sufocando lentamente. O ar já me é escasso, sujo, difícil de inalar. Sinto a cabeça pesada, os olhos acompanham a todo movimento de maneira tortuosa. Doem. Meu corpo todo dói, as pernas querem parar de súbito, em qualquer lugar. A boca amarga, seca e tudo parece pútrido ao meu paladar sensível e cansado. Meus braços sustentam o peso de uma bagagem pateticamente pesada e invisível. E quanto mais meus olhos podem ver, sinto que vou cegando, gradativamente. A visão é turva, vai desaparecer a qualquer momento. E no entanto eu continuo ouvindo. Essas vozes falam muito baixo e todas juntas, gritam, também. E cantam melodias aterrorizantes, me deixam perturbada. Mas percebo de maneira quase insana que me sinto absurdamente só quando se calam. Quero que falem comigo, mas sinto medo. Forço os olhos, também, porque a cegueira me assusta, o escuro me assusta. Meu corpo perece, cada dia mais um pouco. Tudo dói, tudo que é simples parece derradeiro e árduo. Tudo que exige esforço me cansa. Meus olhos sentem tanta dor que choram copiosamente. A melancolia já nem é mais motivo para tanto desespero. Motivo já não é mais motivo, é palavra sem sentido. A dor que eu sinto é quase insuportável, sinto dia após dia meu coração sendo arrancado a sangue frio de dentro do meu peito. A pele é fraca e rasga fácil. O sangue já não tem nem mais espessura de sangue. É raso, quase nem é mais escarlate. E sangra, sangra e sangra. E quanto mais dói, mais longe ainda está do fim. Que é certo, mas sádico. Uma perfeita puta sádica. Não tenho mais reflexo no espelho. E estou de pé. Me apresento todo dia bem cedo diante de centenas de pessoas e nenhuma delas parece assustar-se. Ousam comentar qualquer coisa assim sobre beleza e até rir da ignorância deles dói. Caminho me arrastando por entre eles, sob seus olhares mortos e felizes. Nunca vi tanta felicidade reunida, nunca vi cidade mais vazia. Vou engasgando lenta e tortuosamente no meu próprio sangue aguado. O gosto é ainda pior quando passa pela garganta. Mas nem sei mais o que é desespero, também. Não sei mais nada sobre o que um dia já senti. Só conheço dor.
A surra que eu levei foi de alguém chamado Vida. A Morte foi minha companheira desde então. A Dor veio e tomou o seu lugar.
E a carne que perece é a carne da minha alma. E essa é a carne que ninguém vê.
Eu estou bem.

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