terça-feira, 2 de julho de 2013

Deslumbramentos de Valerie

Um filme cheio de fantasia e sonhos, numa viagem surreal dentro da cabeça de uma menina que está aos poucos descobrindo sobre o mundo e sobre a tênue linha entre a realidade e seus sonhos e pesadelos. Poderíamos estar falando de Alice, mas não. É de Valerie que estamos falando. E de suas experiências e dúvidas acerca do amor, de seus medos, os primeiros contatos com sua consciência sexual e até mesmo suas dúvidas sobre religião. Estes são os temas abordados pelo filme tcheco "Valerie e Sua Semana de Deslumbramentos" (Valerie a týden divů) dirigido por Jaromil Jireš em 1970. 


― x ―

Valerie (Jaroslava Schallerová)
Não é uma tarefa fácil tentar transcrever em palavras um filme tão complexo e repleto de metáforas como este. Eu, como a boa amante de metáforas que sou, não poderia deixar de falar sobre ele. Toda a semana de deslumbramentos de Valerie é contida em inúmeras metáforas valiosas. Não é, porém, um filme capaz de agradar facilmente qualquer pessoa. Eu, sinceramente, acredito que é necessário ter uma grande paciência e um pouco de paixão por cinema para realmente poder aproveitar o filme em seu todo. O que me fascina mais sobre ele, é que eu ainda hoje me surpreendo como um filme feito em 1970 possa trazer assuntos tão polêmicos à debate, como religião e sexualidade, quando ainda hoje esses assuntos são cercados de tabus.
Valerie é uma menina doce, pura e inocente, mas ao mesmo tempo possui em si uma aura sensual, um charme natural que exala de sua feminilidade. O filme todo brinca com a nossa mente, desde os cenários até a cronologia que às vezes parece confusa. 
Vemos um pingo de sangue que cai em uma margarida e Valerie não é mais apenas uma menina. O desejo que sente perto de um rapaz e então vemos os seus devaneios quanto ao fato de ela e ele serem irmãos. Os vampiros e monstros que a cercam, representando o comportamento humano. Os padres que pregam as morais impostas pela igreja e que são os mesmos vampiros inescrupulosos e os monstros assustadores que rondam a cidade. Valerie observa meninas em vestidos brancos trocando toques e carícias e depois se vê presa a uma estaca com pessoas segurando tochas, prontas para queimá-la viva como uma bruxa. E estes são apenas exemplos de todo o simbolismo minucioso que o filme carrega.
Todo o seu contexto é puramente metafórico e exige um longo exercício de reflexão e paciência para realmente entender o que está acontecendo e não se deixar levar apenas pela fantasia que ultrapassa e desafia todas as leis da realidade. É como um sonho distópico e infinitamente surreal. Uma viagem direta dentro da mente de Valerie e de todas as suas dúvidas, medos e desejos acerca do ponto crucial que desencadeia essas dúvidas todas: tornar-se mulher, crescer e encarar o mundo afora e todas os seus horrores e suas maravilhas. São os sonhos e deslumbramentos de uma menina que está a conhecer o mundo. Sonhos estes que chegam a ser perturbadores e horríveis. Ou talvez perturbadora e horrível seja a realidade e os sonhos belos são a forma de escapar desse mundo cruel, de fugir de seus medos. 
Valerie está presa neste universo distópico que é a sua própria mente e somos permitidos a espiar lá dentro, lá no que há de mais íntimo nela. O filme nos deixa com uma sensação de que estamos correndo ao lado de Valerie e que somos cúmplices de todos os seus devaneios.

Eu não seria capaz de descrever a experiência toda que eu tive ao ver esse filme e nem acho que seria justo, pois acredito que, para quem gosta de cinema, o prazer em assistir à esta obra deve ser aproveitado durante cada segundo em que estamos na companhia de Valerie. Tudo o que posso dizer é que recomendo essa experiência singular. 

A minha nota: ★★★★★

TRAILER


― x ―






Nenhum comentário:

Postar um comentário

Спасибо!