sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Fragilidade

Vida é coisa frágil. Em um momento você está aqui e no momento seguinte, se piscar os olhos, você já não mais estará presente. Vida é coisa delicada, é coisa pra se guardar. Foi num domingo que eu vi com os próprios olhos que vida é pra quem sabe cuidar e que a vida não pode depender de outras vidas. Vida é pra quem tem o coração ruim, os bons vão cedo, vão rápido, a gente nem vê. Um filhote veio brincar comigo, atravessou a rua sem olhar. Um desses de coração ruim sabia ver, podia enxergar, mas vida para ele dever ser apenas um brinquedo, um jogo de apostas ganhas. Vi o carro passar e não pude fazer nada. Vi o sangue sair de dentro daquela criatura tão pequena e não pude fazer nada. Vi ele agonizar, retorcer, senti toda a dor que ele sentiu. E não pude fazer nada. A vida abandonou os olhos do filhote e ele só queria brincar e eu não pude fazer nada, não pude correr atrás daquele carro vermelho, não pude ficar ali, não pude ver o sangue escorrendo daquela criatura pequena pela boca. Não sei se ele sentiu dor, não sei se foi rápido. Vida é esse artefato frágil demais, abandona os nossos olhos num segundo. Parar de respirar, parar de se mover. São minutos, longos minutos pra quem morre, eu suponho. E minutos rápidos demais pra quem pensa que pode salvar a todos. E minutos invisíveis pra quem sente o poder nas mãos, pra quem pensa poder tirar a vida de alguém. Animais ou pessoas. Que vida amaldiçoada deve ter o cara do carro vermelho. E talvez a minha por não ter feito nada. Por não poder nunca fazer nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Спасибо!